“O Meu Caminho até à Periodização Táctica: De Jogador a Treinador”
MASTERCLASS RENATO PAIVA
EN: I believe there are many ways to reach Rome: by boat, by plane, by bike, on foot, or by car. I believe in my own ways, and fortunately, many of them — almost all, in fact — are based on what my contact with Tactical Periodization has given me from the very beginning.
My start was an interesting one. I wasn’t even a coach yet, but I was already thinking about becoming one, which led me to seek knowledge. When I was playing futsal for Vitória de Setúbal and acting almost as an assistant coach for the team’s trainer, I came across Carlos Carvalhal’s thesis, titled ‘Recover While Training My Game.’ At that time, Carlos had just been appointed as the coach of Vitória de Setúbal, and I saw this as an opportunity. I thought, ‘I won’t let this chance slip away.’
As soon as he arrived, I approached him and said, ‘Coach, I’ve been reading your thesis, and I’d love to observe your training sessions.’ He was incredibly approachable and replied, ‘You can attend as many sessions as you like.’ That was the moment I started connecting theory to practice. There were concepts in the thesis that I didn’t fully understand at the time, but by watching the training sessions — sitting next to Quinito, the great Quinito, full of amazing football stories — everything began to make sense. After each session, I would take the opportunity to ask Carlos and Rifa about my doubts.
I spent nearly a year watching all the training sessions and matches of Vitória de Setúbal. That was my first real contact with Tactical Periodization, and it was truly eye-opening.
But to give better context, let me go back in time. I played football until I was 16, in 1986, as part of the youth ranks at Vitória de Setúbal. When I moved up to the junior level, training sessions were held at the same time as school classes, and my parents were adamant: ‘You’re going to study, forget football, you need to secure a career.’ So, I had to quit football and started playing futsal instead, where I stayed for many years.
Even in futsal, I already questioned certain practices. I remember training sessions where, at the start, we had to run 15 minutes around the court to warm up. That used to frustrate me. I thought, ‘We’re wasting valuable training time instead of learning and practicing the game.’ I would tell my coaches this, but the answer was always the same: ‘Just do what you’re told and keep quiet.’
Years later, when I heard Mourinho’s famous quote — ‘If you want to learn to play the piano, sit down and practice; don’t run around it’ — I realized I’d been thinking that way long before, without even knowing it. When I came into contact with Tactical Periodization, it all made perfect sense. I understood that every minute of training can be used to teach and practice the game while integrating all performance factors.
PT
Acredito que há várias formas de chegar a Roma: de barco, de avião, de bicicleta, a pé ou de carro. Eu acredito nas minhas formas e, felizmente, muitas delas — quase todas, na verdade — são fundamentadas naquilo que o meu contacto com a Periodização Táctica me proporcionou desde o início.
O meu início foi curioso. Eu ainda nem era treinador, mas já pensava em sê-lo, o que me levou a procurar conhecimento. Quando jogava futsal no Vitória de Setúbal e atuava quase como adjunto do treinador da equipa, deparei-me com a tese do Carlos Carvalhal, intitulada ‘Recuperar Treinando o meu Jogo’. Naquela altura, o Carlos assumiu como treinador do Vitória de Setúbal, e eu vi nisso uma oportunidade. Pensei: ‘Não vou deixar esta chance passar’.
Assim que ele chegou, fui falar com ele. Disse: ‘Mister, estou aqui a ler a sua tese e gostaria muito de assistir aos seus treinos’. Ele foi super acessível e respondeu: ‘Os treinos que tu quiseres’. E esse foi o momento em que comecei a ligar a teoria à prática. Havia coisas na tese que eu ainda não compreendia completamente, mas, ao assistir aos treinos, com o Quinito ao meu lado — o grande Quinito, cheio de histórias incríveis de futebol —, tudo começou a fazer sentido. Depois de cada sessão, eu aproveitava para perguntar ao Carlos e ao Rifa sobre as minhas dúvidas.
Passei praticamente um ano a assistir a todos os treinos e jogos do Vitória de Setúbal. Esse foi o meu primeiro contacto real com a Periodização Táctica, e foi revelador.
Mas, para contextualizar melhor, vou voltar um pouco atrás no tempo. Eu joguei futebol até aos 16 anos, em 1986, nas camadas jovens do Vitória de Setúbal. Quando passei para os juniores, os treinos eram ao mesmo tempo que as aulas, e os meus pais foram categóricos: ‘Vai estudar, esquece o futebol, é preciso garantir uma carreira’. Assim, tive de deixar o futebol de campo e fui jogar futsal, onde fiquei por muitos anos.
Mesmo no futsal, já questionava algumas práticas. Lembro-me de treinos onde, no início, tínhamos de correr 15 minutos à volta do pavilhão para aquecer. Aquilo deixava-me frustrado. Pensava: ‘Estamos a desperdiçar tempo de treino, em vez de aprender e praticar o jogo’. Falava isso aos meus treinadores, mas a resposta era sempre a mesma: ‘Faz o que mandamos e cala-te’.
Anos depois, quando ouvi a frase do Mourinho — ‘Se queres aprender a tocar piano, senta-te e pratica; não corras à volta dele’ —, percebi que já pensava assim muito antes, mesmo sem saber. Quando conheci a Periodização Táctica, fez todo o sentido. Entendi que cada minuto de treino pode ser aproveitado para ensinar e praticar o jogo, integrando todos os fatores de rendimento.