Véronique Billat

“Os corpos desportivos funcionam como uma viatura híbrida” | “Sports bodies they function as a hybrid vehicle”

Entrevista / Interview –  La Reserche (2016)

Para Véronique Billat, fisiologista do desporto e antiga atleta, uma das chaves do desempenho desportivo reside nas variações de velocidade. Uma estratégia que permite regenerar eficazmente as reservas energéticas. E que é válido tanto para o desporto profissional como para o desporto amador.

Véronique Billat tem um perfil raro: ela é ao mesmo tempo atleta e investigadora, aliando há trinta anos prática e teoria. Antiga desportista de alto nível (cross-country e ski de fundo), venceu em 1982 a prestigiada prova de trekking (pedestrianismo) da Sierre-Zinal, nos Alpes suíços, é ainda hoje treinadora creditada de provas de fundo e de triatlo. Ela dirige também o laboratório de biologia das adaptações ao exercício da Universidade de Érvy-Vald’Essone e de Genopole, que desenvolveu métodos sofisticados de monitorização da fisiologia do corpo humano durante o esforço. Em 2014, fundou a sociedade BillaTrainning, especializado em conselhos personalizados, inspirados pelos últimos dados científicos sobre treino físico e desportivo. Por altura, dos Jogos Olímpicos do Rio, ela revela a sua visão sobre fisiologia do atleta, mas também sobre treino do desporto amador.

La Recherche: Qual é o parâmetro, sobre o ponto de vista fisiológico, que determina a performance de um atleta?

Véronique Billat: Esse é claramente aquilo a que chamamos de consumo máximo de oxigénio. Para lá de um certo limite, os corpos humanos não conseguem consumir mais oxigénio para oxidar os combustíveis que são os glúcidos, os lípidos e as proteínas em último recurso. De seguida atinge-se a taxa de consumo máximo de oxigénio (VO2max) que medimos em litros por minuto. Este valor depende de dois fatores: o débito cardíaco e a extração de oxigénio ao nível dos tecidos, principalmente dos músculos. A ventilação pulmonar não é um fator limitante, exceto em alta altitude ou casos de patologia. Todo o meu trabalho de investigadora e de treinadora centra-se em refletir sobre os melhores meios de aumentar o VO2max de um atleta. É o parâmetro chave da performance. Dizemos que o VO2max diminui, inexoravelmente, a partir dos 30 anos, mas assim que se retoma o treino, volta a progredir novamente. Constatei-o ao treinar o ciclista Robert Marchand, que entre os 99 anos e os 103 anos alcançou um valor de VO2max superior aquele que tinha aos 80 anos.

LR: E em relação aos desportos que necessitam de uma atividade muscular mais curta e intensa, como o lançamento do dardo e do peso?

No caso desses exercícios extremamente breves, o VO2max não desempenha qualquer papel no gesto propriamente dito, mas vai condicionas a recuperação após esforço. Num gesto explosivo desse tipo, a contração muscular é possível graças à disponibilização muscular imediata do substrato energético do musculo, as moléculas de adenosina trifosfato (ATP).

 

Testimony collected by Nicolas Chevassus-au-Louis

La Recerche | July – August (2016) | Nº5 13-514.

Veronique Billat has a rare profile: at the same time athlete and researcher, allying for 30 years practice and theory. High level former athlete (cross country and long-distance sky), she won in 1982 the prestigious trekking race (pedestrianism) in Sierre-Zinal, in the Swiss Alpes, is still today licensed long distance and triathlon coach. She also runs the Adaptation to Exercise Biology Lab at the University of Érvy-Vald’Essone and Genopole, that developed sophisticated methods of for the human body physiology monitoring during the work. In 2014, she founded the company BillaTrainning, inspired by their last scientific data about physical and sports training. By the Olympics of Rio [de Janeiro, Brazil], she revealed his vision about the physiology of the athlete, but also for amateur sportsman.

La recherche (LR): What is the parameter, under physiological point of view, that determines the performance of an athlete?

Veronique Billat (VB): It is definitively what we call the maximum consumption of oxygen. Beyond a certain limit, human bodies cannot consume more oxygen to oxidate the fuels that are the sugars, fats and proteins as last resource. After that you reach the maximal oxygen consumption rate (Vo2max) we measure in liter per minute. This rate depends on two factors: the cardiac output and the extraction of oxygen in the tissues. The pulmonary ventilation is not a limiting factor, except in altitude or in case of pathology. All my work as researcher and coach is focused on reflecting over the best means to increase the VO2max of an athlete. It is the key parameter of performance. We say that the VO2max decreases, inexorably, after the 30 years, but once you resume training, it progresses again. I’ve realized it when I trained Robert Marchand who, between his 99 and 103 years of age reached a VO2max value higher than he had at the age of 80.

LR: Regarding the sports that need a shorter and more intense muscular activity, as the javelin throw or put shot?

VB: In the case of this exercises, extremely brief, VO2max doesn’t play a role in the gesture itself, but will conditionate the recovery after work. On a explosive gesture of that type the muscular contraction it’s possible due to the availability of muscle to the energetical substrate, the adenosine triphosphate molecules (ATP).